terça-feira, 2 de dezembro de 2008

mundos


Neste mundo adormecido…
Reino dos cegos mudos da emoção…
Queima o código de honra desta prisão d’almas…
Onde os gestos só podem estar cheios de nada…
Onde as vozes não descrevem a sensação…
Onde os corpos perderam a alma…

Encruzilhadas de jogos perdidos…
Todos o jogam sem porquês…
Porque os dias se multiplicam sem doer…
Basta sobreviver, basta sobreviver…
Porque este é um voo solitário e ai de quem sonhar…

Tu e eu quebrámos o código dos demais…
Ousamos num sonho louco, que sentimos como fé…
A nossa certeza, a nossa loucura…
O nosso abraço, a nossa sensação…
Embalo de ontem, de hoje, de amanhã…

Sempre te senti no vento…
No silêncio inocente daqueles rochedos selvagens…
Sempre te senti no mar…
No rasgo de azul que me roubava confissões…
Sempre te senti no silêncio da minha noite…
No eco do meu choro inanimado de esperança…
Sempre te senti, mas um dia desisti… um dia desisti…

Na viagem dos dias soltos…
Queimei a esperança…
Quebrei-me em mil, amordacei o sonho…
Deixei de acreditar que a tua luz me iria tocar…

Eis que chegas, me abraças, me tomas…
Eis que a vida permite o sonho…
Eis que os gestos largos saem da sombra…
Eis que numa cumplicidade d’almas voltamos a voar…
Eis que nos afastamos desta gravidade banal…

Prendi-me à luz do sonho de sempre…
À luz que hoje me reina e comanda…
Por nós rasguei a minha pele…
Rasguei o frio que envolvia o meu abraço…
Enfrentei medos e fantasmas animados de cinza…

Jogamos um xadrez perfeito contra o mundo…
Porque unimos pensamentos, forças e sonhos…
Numa perfeita simbiose animada por um sonho respirado…

És a gigante que me roubou…
Que me possui e me tem em simultâneo…
Estou na palma da tua mão…
De peito aberto…
Tão tua...
Tão tua…

Mata-me agora se assim tiver de ser…
Arranca de mim a inocência que resta…
Mata-me agora se amanhã eu for desequilíbrio…
Porque as tuas lágrimas choro-as eu…
Mata-me agora porque não consigo ver-te rendida…
Antes da tua luz se render…
Mata-me mas abraça-me uma última vez…
Uma última vez que será como se fosse a primeira…
Porque a eternidade conquistou o nosso olhar…

Vida tortuosa e macabra…
Esta que sempre me arrancou sonhos e horizontes…
Que plano das trevas toma forma perante mim…

Não é uma forma, um cheiro, uma presença…
É sim um medo vermelho…
Esse que me enlouquece, que me faz ver-te partir dos meus dias…
Medo animado de tremor com lágrimas caladas…

Não posso eu quebrar o teu equilíbrio…
Não posso eu pousar a minha inconsciência momentânea nos teus ouvidos…
Não posso ou sacrifico aqui e agora a minha alma…
Rasgo os pulsos que te podem condenar…
Juro-te protecção guerreira…
Juro-te luta sem fim contra todos os teus fantasmas…
Nunca serei aliada dos negros vazios…
Antes ver-me morrer diante o nosso princípio sem fim…


02/12/08
00:38
Adhara