terça-feira, 26 de agosto de 2008

Renascimento do ar vermelho


Ar transparente…
Que saturas e limitas o meu voo…
Guardo-te debaixo das minhas asas…
A cada suspiro roubo e devolvo a tua alma com maior esperança…
Somo-te a cada sonho meu e liberto-te enfim…
Sussurro-te os meus desejos secretos, mas tu não me libertas…
Não abres essa mão que arde e queima existências…

Na batalha dos sentidos…
Suspirei até não restar sombra de ti…
O foque caiu sobre os sonhos incompletos que perdi no meio de mim…
Sem parar, suspirava pela redenção…
Sustive o meu instinto e apartei-me da tua existência…
És não mais do que uma ilusão vital sobrestimada…
Sou mais e maior que tu, eu sonho… eu sonho…

Consigo anular a gravidade que me prende a este chão morto…
Magia negra dos sentidos, apartei-me de ti ar transparente…
Os meus sonhos são aliados do vento vermelho…
Não mais preciso que entres em mim e me descrevas o que é voar…
Essas descrições aluadas pelo sol desdenhoso que me inquietaram a alma…
Foram grito de revolta para os meus sentidos…

Guardei uma porção de ti em mim…
Como memória de guerreiro das trevas…
Sublimei a tua força no meu voo singular…
Rasguei o teu pergaminho dourado…
Escrevi na mão o que sinto neste voo vermelho…

Não mais descrevam o que é voar, pois hoje eu voei…
Olhei os olhos do céu azul…
Sorri sem te deixar entrar em mim ar transparente
Tu que condenarias as minhas asas à lógica de todos que te respiram…
Irias sussurrar-me as tuas regras douradas e eu iria adormecer mais uma vez…
Acordaria num corpo pouco desperto para a luz…
Marioneta das emoções d’ontem, não mais serei dos meus sonhos d’amanhã!

Em mim não entras mais ar transparente!
Sempre me preenchi contigo…
Corri por caminhos bifurcados para merecer a tua possessão…
Tornei-te instinto, deixei-me embalar pela tua história…
Adormeci… Confiei-me a ti…

Em mim não entras mais ar transparente!
Pois não mais és que fumo negro de fogueira de homens quebrados…
Se és de todos então não te tomo como meu…
Não te roubo dos que te aceitam e amam como és…
De todos aqueles que aceitam cruzar os dias sem roubar-te um voo solitário…

Desperto do velho estado instintivo e condeno-me à loucura dos céus…
Que assim seja, será a minha primeira sensação acordada…
Foste tu que sempre me prendeste as palavras soltas que eu gritava…
Neste instante abandonas o meu corpo de uma vez…

Que desespero é este o de aprender a viver sem o que me alinhava os dias…
Enlouqueço em busca do teu corpo sem silhueta decorada…
Os olhos do céu recaem sobre mim…
Os meus já não se movem na vertical à tua passagem…
Parte do meu corpo treme, ainda dependente de ti…
Resisto e fecho-me a ti ar transparente que me prendes…

As sensações como eu as conhecia cederam ao sono inanimado…
O meu coração grita, esgotando-se na tua procura…
O meu corpo perde a animação de viver…

Eis que consigo olhar para o meu corpo…
Meio incrédula as amarras quebraram-se sem dor…
A dormência do meu espírito abandonou-me por sequência…
Olho para o pouco que fui como escrava…
Da minha mão nasce mais uma lágrima instável…

Os meus olhos fechados, vêem mais agora que as cores se apagaram…
Assimilo à velocidade da luz toda esta sensação associada…
Eis que os olhos do céu, me olham e me guiam à montanha selvagem…
No seu cume o viajante espera e desespera pela minha chegada…

Nas suas mãos encontrei um pedaço de papel amargo…
Quem me escreveria uma carta d’ódio sem selo…
A missão daquele forasteiro era cruzar a minha alma ao passado…

Eu não mais possuía um corpo para chicotear…
Não mais tinha um rosto para chorar…
A minha boca já não tinha o dom de falar o tal dialecto morto…
Os meus olhos já não se prendiam às letras suspensas…

O forasteiro olhou-me e disse:
“Tu não mais existes porque escolheste voar sem o que te alimentava a esperança, quebraste o teu tempo, agora escuta o que os meus lábios vão desenhar em ti, pois este será o nosso último encontro…”

“Nos dias d’ontem...
Pousaste noutro ser semelhante a tua fé despida de medos…
A chave da tua vida, essa deixaste-a na porta…
Foi fácil aprisionar-te em ti, não esperavas que a chave rodasse no silêncio…
Gritaste aos céus por justiça e credos d’antigamente…

Continuaste esse caminho de sonhador…
Olhaste para o verde campo e sentiste nova força…
Ergueste um malmequer perfeito aos teus olhos…
Extasiada pelo seu aroma e feitiço, permitiste-lhe um beijo…
Uma gota do teu sangue caiu suspensa no seu centro…
Manchou a sua existência ilusória e assim ele se desvaneceu diante de ti…
Ilusões de perda, choraste sem saber que nada tiveste de verdade…

A chave que morava no teu bolso esquerdo esfarrapado caiu de novo…
Olhaste em volta, gritaste contra árvores e pedras mortas…
As raízes circundantes haviam traído o teu caminho…
O mundo teria roubado a tua liberdade…
As tuas amarras apartavam-te do voo perfeito…

Os teus sonhos mendigavam pela chave perdida…
Quando te perdeste-te nas ilusões, que a esperança construía na areia…
Ilusões que o mar destruía com armas prateadas à luz do Sol…

O tempo corria e tu partiste o seu ponteiro com as armas do bolso direito…
Não mais podias esperar, o teu momento era o “imediato”…
Gritavas tu, jovem tola intempéria do equilíbrio da paz…
A emoção que te preenchia queimava-te os poros e ardia em desespero…
Sublimou-se num pesadelo, em que a vida era enganada pela morte…
O tempo fugia-lhe das mãos e corria para o abraço da madrasta…
Acordavas na insignificância da tua existência e morrias de imediato…

Em tempos juraste ter sentido demais…
Noutros gritaste não sentir jamais…
Noutros tantos desenhaste o que não conseguirias alcançar…
Nessa corrida tortuosa e infindável afogavas as frustrações do teu olhar cansado…

Foste condenada no dia em que os teus olhos se perderam na floresta…
Viste o fruto proibido, desenhaste-o no teu dia-a-dia…
Tomaram-te como louca perdida de lápis na mão…
Deram-te uma máscara banal e uma alma irrequieta…
Enfeitiçaram os teus sentidos para que te levassem ao caminho dos demais…

Porque quebraste o espelho mágico?!
Porque renunciaste ao fôlego da vida?!
Porque quiseste sobrepor-te ao ar transparente?!
Nunca pousaste o teu gesto nesse indefinido…
Nunca tiveste um abraço para te embalar nesse impasse…
Abdicaste demais neste jogo de emoções…
Porque não adormeceste?! …

As ilusões dos loucos gritam quando eles caem no sono…
Fogem quando a sua existência se cruza…
Tu moldavas os sonhos e lutavas acordada…

Que elixir dos deuses loucos possuías?!
O teu aliado era Fogo ou Terra?!
Usamos armas que separavam a carne dos sentimentos do osso da alma…
A dor cegou-te e guiou-te sem intenção à desistência?!
Não sei que quimera foi esta incerta que te guiou…
Perdoa este teu “apêndice” que arde agora em curiosidade…

Talvez seja hora de me apresentar…
Sou aquele que cedeu aos estímulos mortos…
Sou o teu coração…
O amante perdido da tua alma ( essa que te possuí por completo neste momento)…
Tentei guiar-te à indiferença para me abrires a porta uma vez mais ao meu corpo relativo…
Alma mágica essa que te colocava questões e me levava à exaustão do batimento…
No jogo dos caminhos radiados tu foste mestre suicida…
Os dados cheios do teu sangue já eram cegos e tolos…
Essa que hoje te possui por completo, essa venceu-nos a todos…

O voo solitário é teu…
A tua coragem deu vida às tuas asas…
O teu corpo já não pesa mais sobre os teus sonhos…
A tua esperança soprou-te para longe…
És do tamanho do teu gesto largo…
O ar transparente quebrou-se diante de um eclipse vermelho…

Como teu coração posso dizer-te que fui um fraco guerreiro…
O movimento animado baralhava as minhas certezas…
A minha princesa estava de costas voltadas para os meus sonhos…
O tempo guiou-me ao desespero e eu cedi ao “talvez”…

Enfim a chave abriu a porta secreta…
Tu abriste as tuas asas ao mundo…
A ampulheta perdida anulou-se de vez…
Tens agora o tempo e o gesto nas tuas mãos…
A animação do teu ser é agora controlado pela tua alma…

Cedo-te o seu gesto minha princesa guerreira…
Para me estarem a ler, morri na batalha do sono dos dias…
Nunca quis travar batalha sobre as nossas cabeças…
Mas tu sabes a verdade perdida… tu sabes o nosso propósito minha amada…

Não estás presa ao vivo, apaixona-te pelo morto também…
O tempo parou, olha sem pressas, toca sem correr…

A tua alma transparente no próximo encontro solar vai ganhar cor…
O teu corpo vai ser tomado pelo quente dos dias…
A tua aura vai erguer-se e reinar de novo…
E eu… vou poder enfim dar as mãos à tua alma como sempre sonhei…

A verdade perdida é esta mesmo…
Separamo-nos para que te descobrisses menina…
Entregamos o nosso amor ao incerto em troca desta hipótese…
Condenámo-lo ao destino animado…
Acreditámos que seríamos maiores que nós próprios…

O tempo não corre mais e…
As nossas lágrimas irão fundir-se num nascer de sol perfeito…
Prepara-te para um reencontro lamechas…
À muito que não nos tocamos…

A data… o local… o momento…
Cabe aos teus sonhos e determinação alcançá-los…
Não vivas presa a mais nada, hoje que ganhaste cor…

Que me somes o quanto antes à princesa que possuís como ser…
Que o amor nos una e nos mate juntos…

Obrigado por teres acreditado no “vale encantado” dos sonhos…
Perdoa-me por todo o desespero que te fiz provar….

Já vencemos uma batalha… shhh… és guerreira de luz que voa… ;)

Ass: O teu coração perdido”


Meia perdida, meia extasiada vejo-me ainda vestida de cor pálida…
Os meus gestos ainda meio dismetricos embalam-me…

Vou adormecer…
Não sinto peso ou obrigação…
O “tic tac” parou de vez…
Vou flutuar sobre os sonhos que se escondem dos meus dias…
Irei amarrá-los às minhas certezas…

Vou dar vida ao meu coração com a cor da minha alma…
Vou correr sem parar até juntar aquilo que creio ser…

A cruzada da minha vida……………….
A minha metade… vou agarrá-la…
Vou cruzar-me contigo forasteiro dos meus dias…

Os meus sonhos… esses… já me pertencem !!


Adhara 02:57
26/08/08

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

A verdade...


“The truth will set us free”

Durante anos corri por vales e montanhas…
Voei por céus e realidades alheias…
Abandonei-me e corri para longe de mim…
Deixei partir sensações humanas e abracei esta utopia…
Abdiquei de viver pela verdade que se escondia de mim…
Porque tudo parecia estar cheio de nada sem ela…

Queria encontrar o meu reflexo futuro…
Com o “Punhal Dourado” cravei a minha alma adormecida…
O meu futuro não poderia ser simétrico a este vazio presente…
Apressei-me a mutações disformes…
Rasguei a pele que me escondia da luz sem hesitar…
Olhei o céu como limite e abandonei a Terra…

Eis que agarro a verdade com minhas mãos de guerreira…
Eis que os meus olhos inquietos a consomem…
Eis que as minhas lágrimas de gelo a destroem…
Eis que os meus sonhos são dilacerados pelas suas linhas rectas…

Ergo o meu troféu…
Terminou a odisseia veloz…
Vozes consomem-me e eu nem as reconheço…
Não há caminho a partir desta ponte de fogo…
O meu pensamento não pode mais correr…
Os sonhos estão serenos no mar vermelho de lágrimas…

A tão sonhada Paz é minha…
Tão minha...
A caixa de Pandora com negros contornes…
Esconde a força que consome o meu corpo e espírito…
Nasce a luz que ilumina o meu caminho anulando os meus medos…

Paz de sonho e de mil guerras…
Agarrei os seus contornes e moldei-a aos meus ideais…
Venci a velha batalha conquistando uma nova guerra…

Não tenho destinatário para os meus devaneios nocturnos…
Os meus sonhos não têm horizontes agora que o amor não tem rosto…
Os meus gestos abandonados por toda e qualquer paixão perderam a força…

A iluminação que pensava vir a sentir está agora a anos de luz de mim…
A “verdade” nada me trouxe de novo…
Despiu-me de ilusões e fechou mais uma janela isolante…
Sento-me neste quarto vazio e observo a velha vela desvanecer…
Tal como a minha esperança de encontrar mais que a verdade…

Não procuro as “Verdades Perfeitas” de uma vida…
Essas não passam de escravas de mentes adormecidas…
Vassalas de teorias perfeitas, de canetas permanentes…
Alteradas como um poema enamorado e inacabado…

Não te procuro mais minha verdade…
Arrancaste de mim os sonhos da noite…
O motivo dos dias desvaneceu no nevoeiro da minha praia…

Areia salgada é esta que escorrega por entre os dedos…
Maresia é tudo o que sinto nesta minha pele nua…
Assim enclausuro a minha alma…
Condeno-a à procura intemporal do antes perdido tesouro…

Não tenho dívidas d’emoção…
Não tenho ambições ou ilusões…
Os meus sonhos morreram com o tempo de ontem…
Vivo o aqui e o agora…
Agarro o micro segundo que me faz sorrir…
Despeço-me das almas que me acompanharam na batalha…

Sou hoje guerreira de verdade nas mãos…
Despida de propósito próprio obsessivo…
Pouso a velha armadura que me protegeu e saio de mim…
Na maior viagem de todos os viajantes…
Eu vou encontrar os meus “dois pontos”…
Que darão início à descrição do tesouro que nunca tomei como meu…

No fundo deste lago mágico revejo o meu propósito…
Largo a força e abraço o leve toque que me guia…
Pedra preciosa cravada no meu peito, escondida de olhares indiscretos…
Guardar-te-ei algures no fundo de um sonho incerto…

Guerreira de mãos cansadas que sangram sem parar…
Ainda não parei de agarrar esta corda que me queima a pele...
Os sonhos que estão suspensos na sua ponta pertencem aos que amo…
A esses que me chicoteiam dia-a-dia o corpo guerreiro…
A todos eles que saturam a minha existência e me fazem querer sair de mim…
Por todos eles abraço esta guerra interior…

Que sejam concedidos desejos, sonhos e loucuras aos demais…
Que o meu corpo e pensamento sejam vítima de massacre…
Que eu saia de mim e me encontre de uma vez…
Que a nova pele permaneça e envelheça sem fugir de mim…
Que sonhos inalcançáveis me abracem e me consumam de novo…
Que eu consiga agarrar o que a minha imaginação desenha…

Que esta verdade presente que conquistei seja a minha maior mentira…
Que este vazio seja apenas mais uma cicatriz e não dogma…
Que esta dor seja ponto de começo e não um fim…
Que eu me molde a este grito de coragem que me enlouquece…

Que o amor exista ao virar “daquela” esquina…
Que o seu corpo morto desapareça diante dos meus olhos cansados…
Que a sua ressurreição seja o cerne e não apenas a envolvência...
Que o meu corpo estremeça de novo por outro…
Que a minha alma se funda ao que sempre sonhei e nunca encontrei…

O grito de Coiote guerreiro é dado com a força de mil e uma almas esquecidas…

Estou a ouvir…
Assim dou-te a minha mão…
Assim dou um novo passo nesta ponte de vento que sonhei e descobri…
Rumo ao desconhecido, sem imaginação, sem desenhos perfeitos, apenas com a esperança de um dia voltar a sonhar como “naquele” dia em que ainda não tinha a verdade queimada em mim…

02:06 h
Adhara
20/08/08

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

À luz de vela


Mão cruel é esta que me esmaga sem hesitar…
Só podia ser a mão que um dia amei…
Aquela que se entrelaçou na minha…
O meu fim terá início nessa mão…

Porque acredito em mitos que me movem…
Porque desenho os meus sonhos no céu…
Porque a minha alma não sabe estar só…
Estou destinada a essa mão que me esmaga…

Estou deitada sem forças, inanimada sem gesto de paixão…
Essa mão desfez o meu último sopro de vida…
Fez da minha esperança azul, vendaval de emoções…
Fez brincadeiras de papel com as minhas lágrimas…

Quero gritar, mas apenas sinto uma ira disforme e silenciosa…
Que me corrói, que me destrói…
Porque assim tem de ser…
Cedo por uma vez só ao que está escrito para mim…
Que dor é esta que me seca a boca e me rasga a alma?!

Assim é a minha aprendizagem…
Que me chicoteiem mais uma vez com a verdade…
Só assim ela se tornará real na minha pele…
Assim será gerada a pessoa que eu devia ser desde o inicio dos tempos…
Que as minhas lágrimas de sangue me queimem por dentro…
Que eu morra já, aqui e agora de uma vez…
Que o suspiro de menina seja enterrado…
Que se gere energia e não sonhos de papel…
Que nasçam gestos de gente crescida…
Que morra já, aqui e agora de uma vez, tudo aquilo que me desequilibra…

Com o fogo nas mãos…
Com o fogo nos gestos…
Com o fogo na alma…
Tenho de castrar este impulso que comanda o louco coração…

Mil ilusões geradas pela pressa de dar “o passo”…
O passo que nos guiará ao que o gesto solitário não alcança…
Porque queremos tudo, aqui e agora…
E a vida brinca com estes sonhos de meninos…

Loucura enigmática é esta gerada pelo ser humano…
O mundo é simples, recto, perfeito, sublime…
São os nossos gestos que nos condenam…
Não saber jogar os dados paga-se com sangue vivo…
E o tempo corre, corre…
Voa e eu continuo aqui presa em mim, presa em ti…

Estou no chão…
Olho em redor e quero ver fogo…
Consumo a minha droga hormonal passiva…
Gerada para me adormecer e anular…
Quero ver mudança… mutação… geração…!!!

Sinto-me tão fora de mim…
Mais uma pele que se rasga…
Mais um sonho que se enterra…
Mais uma lição escrita com o sangue dos meus sonhos de menina…

Assim o mundo se escurece mais um pouco diante dos meus olhos…
Assim fecho a janela e acendo uma vela só minha…
Assim fecho a porta e a minha música nasce…

Que me deixem de uma vez…
Não nasci para amar…
O meu amor não é decifrável…
Estou destinada aos jogos de sangue…
Que me deixem de uma vez…

Dêem-me uma vela e deixem-me enfim chorar.

Adhara

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

A efemeridade temporal da palavra…


A efemeridade temporal da palavra…
Cria um vazio na voz…
Relativiza e minimiza o eco do som…

Uma distância e ilusão entre individuais…
Uma incerteza destrutiva das faces externas…
Fechem as portas, loucos corações…
A imigração do dialecto universal aconteceu…

Até onde vai o que te mora no peito?!
Vai longe demais?!
Porque tremes tu?!
Grita de uma vez!!
Sem redes fechadas de lógicas sociais….
Salta de uma vez só...
Queda livre… louca e suicida…
Quebra de uma vez essa máscara que te esconde!

Até onde vai o que te mora no peito?!
O amor morreu?!
Porque mentes tu?!
Grita de uma vez!!
Sem redes fechadas de lógicas sociais….
Salta de uma vez só...
Queda livre… louca e suicida…
Quebra de uma vez essa máscara que te esconde!

Porque existem adornos verbais?!
Porque nos escondemos atrás daquilo que nos pode libertar?!

Poder de expressão…
Gesto animado de linguagem universal…
Que se quebrem barreiras…
Que se distribuam vozes aos espectadores…

Onde pára aquilo que sentes?!
Onde começa aquilo que queres sentir?!
Que desenho em branco é o amor dos nossos dias?!
Personagens vazias e adaptadas à mão que as roubou…
Vozes caladas que nos rebentam nas mãos em silêncio…

As palavras tornaram-se na mais subtil mentira social…
Com uma palavra posso tudo e nada…
Consigo abrir e fechar portas e ainda puxar o sol até mim…
Malabarismo simbólico cheio de nada se assim eu quiser…

As palavras tornaram-se no maior medo social…
Com uma simples palavra, tu irias olhar para mim…
Conseguiria existir nos teus dias e ver-me reflectida na tua resposta…
Com uma simples palavra a minha máscara neutra ganhava cor…
Medos passados diluem a coragem na frieza da indiferença social…
E assim te fechas…
E assim nos fechamos…
E assim nos escondemos…

És para mim tudo aquilo que o meu coração grita…
É esse o poder da minha palavra…
Essa frase que não consigo dizer sem gaguejar…
Essa frase que me seca a boca e me palpita no peito…
Que me faz tremer e me lateja a alma…
Que me empurra para uma radiação emocional…

É um sol que fere se não for exposto…
Tenho de gritar o quanto moras em mim…

Posso fazer um desenho, com os teus contornes…
Posso roubar uma imagem do mundo, com a tua beleza…
Posso escrever e reescrever até que o meu espírito adormeça…
Até que um sonho me prove que sabes o que sinto por ti…
Mas nada do que eu escreva, faça ou imagine nos irá superar…
Porque tu e eu somos um sorriso que nasce sem motivo…
E para isso não há lógica ou causa-efeito…

Quero um gesto arrebatador…
Quero uma voz que queime…
Quero um roubo de emoções…
Quero desequilíbrios…
Quero guerras de aprendizagem…

Se somos o reflexo dos nossos gestos…
Se todos teimam em definições teóricas e perfeitas…
Qual é o caminho que cruza as palavras e os actos?!
Onde grita a tua e a minha emoção?!

Doce mentira solitária…
Esta que nos embala…
Que falsa verdade é a nossa?!

Onde termina a necessidade de dizer “amo-te”… ?!
Onde começa o medo da solidão?!
Encontrem-se antes de proferir palavras de “longo alcance”…
Ferem mais que balas quando são vazias…

A palavra…
Suave reflexo daquilo que nos une…
Exagerada, fria, controlada, calculada, louca ou possuída…
Que seja apenas a transparência daquilo que nos mora no peito…

Não peço nada mais que um fiel reflexo individual…
Os deuses devem estar cegos e surdos…
Pois a verdade que eles desenham é mutante e eu não sei se a quero ver uma vez mais…

Assim queimo a força e ganho o gesto…
A escrever…
A falar…
A gritar…
A sussurrar…
Sou o meu fiel reflexo…

Ama-me ou odeia-me…
Mas olha para mim…
Eu existo…
Por cima de mim não passarás…



Adhara
01:29h
11/08/08