quinta-feira, 21 de agosto de 2008

A verdade...


“The truth will set us free”

Durante anos corri por vales e montanhas…
Voei por céus e realidades alheias…
Abandonei-me e corri para longe de mim…
Deixei partir sensações humanas e abracei esta utopia…
Abdiquei de viver pela verdade que se escondia de mim…
Porque tudo parecia estar cheio de nada sem ela…

Queria encontrar o meu reflexo futuro…
Com o “Punhal Dourado” cravei a minha alma adormecida…
O meu futuro não poderia ser simétrico a este vazio presente…
Apressei-me a mutações disformes…
Rasguei a pele que me escondia da luz sem hesitar…
Olhei o céu como limite e abandonei a Terra…

Eis que agarro a verdade com minhas mãos de guerreira…
Eis que os meus olhos inquietos a consomem…
Eis que as minhas lágrimas de gelo a destroem…
Eis que os meus sonhos são dilacerados pelas suas linhas rectas…

Ergo o meu troféu…
Terminou a odisseia veloz…
Vozes consomem-me e eu nem as reconheço…
Não há caminho a partir desta ponte de fogo…
O meu pensamento não pode mais correr…
Os sonhos estão serenos no mar vermelho de lágrimas…

A tão sonhada Paz é minha…
Tão minha...
A caixa de Pandora com negros contornes…
Esconde a força que consome o meu corpo e espírito…
Nasce a luz que ilumina o meu caminho anulando os meus medos…

Paz de sonho e de mil guerras…
Agarrei os seus contornes e moldei-a aos meus ideais…
Venci a velha batalha conquistando uma nova guerra…

Não tenho destinatário para os meus devaneios nocturnos…
Os meus sonhos não têm horizontes agora que o amor não tem rosto…
Os meus gestos abandonados por toda e qualquer paixão perderam a força…

A iluminação que pensava vir a sentir está agora a anos de luz de mim…
A “verdade” nada me trouxe de novo…
Despiu-me de ilusões e fechou mais uma janela isolante…
Sento-me neste quarto vazio e observo a velha vela desvanecer…
Tal como a minha esperança de encontrar mais que a verdade…

Não procuro as “Verdades Perfeitas” de uma vida…
Essas não passam de escravas de mentes adormecidas…
Vassalas de teorias perfeitas, de canetas permanentes…
Alteradas como um poema enamorado e inacabado…

Não te procuro mais minha verdade…
Arrancaste de mim os sonhos da noite…
O motivo dos dias desvaneceu no nevoeiro da minha praia…

Areia salgada é esta que escorrega por entre os dedos…
Maresia é tudo o que sinto nesta minha pele nua…
Assim enclausuro a minha alma…
Condeno-a à procura intemporal do antes perdido tesouro…

Não tenho dívidas d’emoção…
Não tenho ambições ou ilusões…
Os meus sonhos morreram com o tempo de ontem…
Vivo o aqui e o agora…
Agarro o micro segundo que me faz sorrir…
Despeço-me das almas que me acompanharam na batalha…

Sou hoje guerreira de verdade nas mãos…
Despida de propósito próprio obsessivo…
Pouso a velha armadura que me protegeu e saio de mim…
Na maior viagem de todos os viajantes…
Eu vou encontrar os meus “dois pontos”…
Que darão início à descrição do tesouro que nunca tomei como meu…

No fundo deste lago mágico revejo o meu propósito…
Largo a força e abraço o leve toque que me guia…
Pedra preciosa cravada no meu peito, escondida de olhares indiscretos…
Guardar-te-ei algures no fundo de um sonho incerto…

Guerreira de mãos cansadas que sangram sem parar…
Ainda não parei de agarrar esta corda que me queima a pele...
Os sonhos que estão suspensos na sua ponta pertencem aos que amo…
A esses que me chicoteiam dia-a-dia o corpo guerreiro…
A todos eles que saturam a minha existência e me fazem querer sair de mim…
Por todos eles abraço esta guerra interior…

Que sejam concedidos desejos, sonhos e loucuras aos demais…
Que o meu corpo e pensamento sejam vítima de massacre…
Que eu saia de mim e me encontre de uma vez…
Que a nova pele permaneça e envelheça sem fugir de mim…
Que sonhos inalcançáveis me abracem e me consumam de novo…
Que eu consiga agarrar o que a minha imaginação desenha…

Que esta verdade presente que conquistei seja a minha maior mentira…
Que este vazio seja apenas mais uma cicatriz e não dogma…
Que esta dor seja ponto de começo e não um fim…
Que eu me molde a este grito de coragem que me enlouquece…

Que o amor exista ao virar “daquela” esquina…
Que o seu corpo morto desapareça diante dos meus olhos cansados…
Que a sua ressurreição seja o cerne e não apenas a envolvência...
Que o meu corpo estremeça de novo por outro…
Que a minha alma se funda ao que sempre sonhei e nunca encontrei…

O grito de Coiote guerreiro é dado com a força de mil e uma almas esquecidas…

Estou a ouvir…
Assim dou-te a minha mão…
Assim dou um novo passo nesta ponte de vento que sonhei e descobri…
Rumo ao desconhecido, sem imaginação, sem desenhos perfeitos, apenas com a esperança de um dia voltar a sonhar como “naquele” dia em que ainda não tinha a verdade queimada em mim…

02:06 h
Adhara
20/08/08

1 comentário:

Anónimo disse...

Não tenho palavras pare este texto...é das coisas mais belas que li até hoje...*